70% dos agrotóxicos usados no Brasil são altamente perigosos
    Autor: CUT - Érica Aragão
    30/08/2019



    Lei brasileira facilita comércio de pesticidas altamente tóxicos, muitos deles proibidos na União Europeia, aponta estudo realizado pela ONG Suíça Public Eye

    Pesquisa da ONG Suíça Public Eye revela que 70% dos agrotóxicos utilizados no Brasil são altamente perigosos – 44% são proibidos na União Europeia por apresentarem riscos à saúde e ao meio ambiente.

    O estudo “Lucros altamente perigosos”, feito em parceria com a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, lançado nesta quarta-feira (29), revela ainda que a empresa Suíça Syngenta ganha bilhões vendendo agrotóxicos altamente perigosos em países onde a legislação costuma ser mais fraca ou menos rigorosamente aplicada, como é o caso do Brasil.

    Especializada em sementes e produtos químicos voltados para o agronegócio, a Syngenta que tem quase 70 pesticidas proibidos no mundo, é a principal vendedora de agrotóxicos no Brasil. Só em 2017, a empresa lucrou US$ 1,6 bilhão no país, o equivalente a 18% do que vendeu no mundo inteiro.

    Dos 120 ingredientes ativos de agrotóxicos produzidos pela empresa, 51 não estão autorizados em seu país de origem e 16 foram banidos devido ao impacto à saúde humana e ao meio ambiente.
    Já no Brasil, metade dos agrotóxicos mais vendidos pela Sygenta é composto por substâncias listadas como “altamente perigosas”, segundo a Rede de Ação contra Agrotóxicos, conhecida como PAN, sigla em inglês de Pesticide Action Network.

    Segundo o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais (IBAMA) do Ministério do Meio Ambiente (MMA), cerca de 370.000 toneladas de agrotóxicos altamente perigosos foram pulverizadas em plantações no país – aproximadamente 20% do uso mundial.

    A investigação aprofundada feita pela Public Eye no mundo obscuro dos agrotóxicos altamente perigosos também revela que a gigante suíça do setor de agroquímicos é uma das maiores responsáveis por inundar o mercado dos países de baixa e média renda com estes produtos.

    “Este relatório traz a confirmação de denúncias que são feitas há anos pelos movimentos, organizações e especialistas sobre a perversidade das multinacionais de agrotóxicos”, disse o secretário do Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio.

    Enquanto nos países sede seus piores venenos são proibidos, empresas como a Syngenta investem na fragilidade de legislação de países mais pobres para aumentarem seus lucros
    - Daniel Gaio

    Como o agronegócio se tornou o sustentáculo da economia brasileira, o poder político dos proprietários de terras cresceu. A bancada ruralista (um grupo parlamentar que representa os interesses da agroindústria) tem controlado em torno da metade do congresso brasileiro nos últimos anos e com o governo de Jair Bolsonaro (PSL), o poder do agronegócio está atingindo níveis sem precedentes.

    A ministra que Bolsonaro escolheu para comandar a pasta da Agricultura é Tereza Cristina Dias que foi chefe do lobby agrícola no Congresso Nacional. Por sua atuação para forçar a flexibilização dos controles sobre os agrotóxicos recebeu o apelido de “Musa do Veneno”.

    “O governo Bolsonaro trabalha para envenenar cada vez mais a população e deixá-la exposta às vontades de empresas que lucram com o nosso adoecimento. Só nos oito primeiros meses de 2019, o governo aprovou 290 agrotóxicos e trabalha para acabar com toda a legislação que garante alguma proteção a classe trabalhadora frente a este cruel cenário”, denuncia o dirigente CUTista.

    Para a agrônoma e educadora da FASE, Francileia Paula de Castro, há uma estratégia internacional, principalmente na Europa e de multinacionais que residem nestes países, de destinar para nações de baixa renda, como o Brasil, Paraguai, Bolívia, Guiné e até para China, agrotóxicos que são banidos nestes países de origem aproveitando-se de uma legislação fraca para poder comercializar agrotóxicos altamente tóxicos.

    “O questionamento é até que ponto os acordos internacionais interferem, inclusive nesta avalanche de agrotóxicos que foram liberados nos primeiros meses deste ano. Outro é, como a fragilização da legislação brasileira favorece estas indústrias e a comercialização de agrotóxicos altamente tóxicos no Brasil”, afirmou Francileia Paula de Castro.

    Ela destacou que uma das propostas do documento da ONG Suíça Public Eye é cobrar dos parlamentos europeu e da Suíça uma forma de proibir a exportação de princípios ativos que já foram banidos em seus países de origem para países como Brasil, Argentina, Paraguai e outros.

    “E também chamar a atenção da população que no relatório tem uns posicionamentos de organizações internacionais alertando para o problema, principalmente quando a gente tem uma situação de exploração e também de extermínio destes países”, finalizou a agrônoma.

    O documento com 56 páginas traz outras análises dos impactos do uso do agrotóxico, como as transformações geográficas das intoxicações, um mergulho nas águas contaminadas do Brasil e os efeitos crônicos dos agrotóxicos na saúde humana no Brasil.